Quando eu estava no segundo semestre da faculdade, uma professora nos levou algumas vezes até o corredor do prédio 19 e num pátio do ensino médio do Mackenzie para fazermos desenhos de observação. É muito mais complexo retratar uma cenário completo, com gente passando e tudo mais, doque um único objeto estático ou mesmo uma pessoa imóvel.

Ela recomendava que fizessemos uma janela retangular numa folha de papel. Isso funcionava como um tipo de “mira”. Ou melho, isso demarcava o enquadramento do desenho. Assim, se segurassemos a folha sempre na mesma posição, enquanto olhávamos o cenário, o delimitaríamos e saberiamos exatamente onde o desenho deveria acabar. Alguns, mais experientes em técnicas de ilustração, dispensavam a janelinha.

Quando viajei até Dessau, para conhecer o lendário edifício Bauhaus, derrepente olho por uma janela do prédio e vejo a seguinte cena:

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Lá na Bauhaus os alunos também têm aulas de desenho de observação pelo campus e também usam uma janelinha numa folha de papel para definir o enquadramento. A diferença é que usávamos, no Mackenzie, folhas tamanho A3 e eles A4. Em compensação, eles tinham cadeiras e bancos dobráveis e nós não.

Bauhaus, Mackenzie… Então desenho de observação ao ar livre é uma técnica avançadíssima de ensino, destinada a alunos de cursos superiores?

Não.

Na histórica cidadezinha de Goiás, a antiga capital do Estado, testemunhei esta “complexa e dificílima técnica pedagógica superior” em uso em frente a um campus universitário local. Mas não eram os universitários locais quem usufruiam do seu aprendizado. Na cidade, fundada pelo Bandeirante Anhanguera, são as crianças do ensino fundamental quem saem da sala para desenhar ao ar livre.

E eles não se limitam aos pátios ou aos corredores como eu fazia em São Paulo, ou como faziam em Dessau. Em Goiás, as crianças eram levadas aos marcos históricos, monumentos, prédios ou museus da cidade. Os professores aproveitavam o passeio para ensinar a História in loco e na sequência, a molecada pegava seus lápis, lápis de cor, canetinhas ou giz de cera, uma folha em branco e “vamos que vamos”.

Aqui as escolas levam os alunos para aprender in loco a história da cidade e desenhar os monumentos da cidade

Eles não usavam a janelinha de enquadramento. Não acho que o objetivo principal da aula era desenvolver exímios ilustradores, mas ensiná-los a importância do seu cantinho do mundo e captar como cada um vê a sua cidade.

Não me lembro de ter feito algo parecido nem na infância, nem na adolescência. Acho que teria sido algo muito valoroso no meu desenvolvimento como cidadão. E num mundo como o de hoje, onde querem colocar no “lombo da internet” toda a responsabilidade pela qualidade da educação, iniciativas como essas seriam muito mais proveitosas que “video-games didáticos”.