Não adiantou a população protestar: Arrancaram quase cinco metros da História ontem. Foi antes do sol nascer em Berlin que máquinas e operários, protegidos por cerca de 250 policiais, removeram quatro segmentos do Muro que dividiu a cidade durante a Guerra Fria. Estava me preparando para jantar ontem a noite, quando o Jornal Nacional noticiou esta imbecilidade.

Três semanas atrás, eu falei aqui no blog sobre a primeira tentativa de remoção de parte da East Side Gallery, (ex-)maior trecho contínuo preservado do Muro, para a construção de apartamentos de alto luxo às margens do Rio Spree. A construtora prometera negociar uma saída para o impasse que a situação gerou. Mas ontem, de maneira surpreendente a empresa rompeu a trégua.

Não sei se por sadismo ou coincidência, este vandalismo, movido pela especulação imobiliária, aconteceu exatamente no Dia Internacional do Grafitti. E cinco dias antes do ataque ao Muro, o Google adiciou à sua coleção de galerias de obras de arte, ao lado de museus do mundo todo como o Luvre e a Pinacoteca do Estado, o primeiro álbum apenas com grafitti e arte de rua.

Não adianta apelar para o bom-senso dos empreendedores pois, sob o ponto de vista deles, o argumento é: “geramos milhares de empregos, pagamos impostos e melhoramos a cidade”. A culpa é de quem autorizou, seja o governo local ou federal. Talvez a Unesco ou algum outro organismo ou entidade internacional deveriam ter se pronunciado em tempo hábil. O fato é que todos deixaram acontecer. E o Muro voltará a dividir a cidade, e mais uma vez o motivo é a mesquinharia humana.

Como disse anteriormente, eu visitei a East Side Gallery em 2011. Pude ver, tocar, pisar e fotografar as duas faces do Muro. Um privilégio que nem os moradores de Berlin terão mais.

O Muro de Berlin - lado ocidental - meu pé

E uma correção: no dia 6 de março, quando abordei pela privez o assunto, adicionei uma foto do trecho que eu disse que seria removido. Me baseei na descrição do desenho nele pintado, que citava a imagem do Portão de Brandenburgo. Pois me enganei,  o buraco foi aberto em outra parte, onde também havia um desenho do Portão de Brandenburgo.