Na época que a Peste Negra assombrava a Europa, nos cemitérios de Paris não havia mais vagas. Como a demanda não parava de crescer, foi preciso criar demanda. A cidade então esvaziou todas as suas sepulturas e empilhou as ossadas num túnel sob o bairro de Montparnasse. E na manhã do dia 9 de dezembro de 2014, eu visitei esse gigantesco ossário.

Mais uma vez, cheguei antes da abertura das catacumbas. Entrei no segundo grupo. A cada quinze minutos, um certo número de pessoas é autorizado a entrar. O túnel é profundo, estreito e o acesso é difícil, então é melhor que seja assim (lá dentro isso é bem óbvio).

Andei muito pelo túnel cheio de guinadas. Encontrei algumas inscrições entalhadas nas paredes da galeria (algumas indicando o logradouro acima). Também havia alguns banners com explicações sobre a geologia parisiense. Isso tudo baixou muito minhas expectativas. Já imaginava que encontraria um pouquinho de caveiras e sairia de lá me sentindo um otário.

Depois de passar por um pórtico, onde estava escrito Memorle Majorum, cheguei ao ossário.

Daqui até a saída, todas as paredes serão assim

Corredores e mais corredores delimitados por pilhas de fêmures e crânios (os outros ossos eram jogados por cima e atrás das pilhas). Ao longo dos tempos, vários ossos foram danificados e roubados (na saída minha mochila foi revistada).

Em alguns pontos existem citações de textos sobre a morte. Noutros, a datação dos ossos daquele trecho. Desenhos de cruzes e outros símbolos formados por crânios também decoram as paredes das catacumbas.

São tantos corredores, que grades foram instaladas para criar um caminho contínuo. E quando pensei que já cheguei ao final, depois de uma curva, percebi que só estava na metade do ossário.

E o que eu senti ali? Um misto de fascínio, nojo e perplexidade. Lá estavam milhões de pessoas, de várias gerações, provavelmente de todas as classes e etnias francesas, não há prova maior que todo mundo é igual. A maioria morreu na pior epidemia da história. Dá medo, de verdade, pisar nas poças formadas pela água que se infiltra pelo teto. A possibilidade tocar, mesmo que levemente, aquelas ossadas e contrair alguma doença causa fobia.

Saí a mais de um quilômetro de onde entrei. Por causa da sinuosidade do túnel, andei muito mais que isso. E do outro lado da rua, no final da escada, encontrei uma loja oficial de soveniers.