Falta só um mês para a estreia do sétimo episódio de Star Wars. Todo mundo aguarda ansioso por este filme que mostrará a velhice de Chewe, Han, Luke e Leia. Todo mundo no planeta, menos eu. Tanto que até agora ainda não assisti qualquer um dos trailers, vi fotos ou li qualquer coisa sobre a história.

A lembrança mais antiga que tenho de Guerra nas Estrelas é de meados da década de 80, quando os três filmes originais (ou pelo menos só O Império Contra-Ataca e O Retorno de Jedi) passaram no Supercine, da Globo. Eu era bem criança e não aguentei assisti-los inteiros. Lembro-me que quando Luke Skywalker encontrou Yoda pela primeira vez, meu pai disse que o mestre baixinho era o primeiro ministro do planeta e do monstro que cuspiu o R2.

Outras cenas do Império Contra-Ataca que ficaram nas minhas memórias foram: Han Solo enfiando Luke nas tripas do bicho (por causa disso, por muitos anos acreditei que todos os personagens tinham uma “espada laser”); as navinhas derrubando aqueles bichões com cordas; quando “mataram” o Han Solo; da minhoca que engoliu a nave; e do impressionante momento que Darth Vader corta fora a mão do Luke (só não fiquei traumatizado porque não teve sangue). Fora isso, não guardei mais nada. Não me lembrava de diálogos, do enredo, da história e nem da ordem dos fatos que descrevi.

Na manhã seguinte o filho do pastor me explicou os detalhes da história na Escola Dominical. E na segunda-feira, um coleguinha da pré-escola estava lamentando que Luke não tinha esparadrapo para colar a mão de volta.

No sábado seguinte, a globo exibiu o Retorno de Jedi. Dessa vez só me lembro do descongelamento do Han Solo. Mesmo como filho do pastor, na manhã seguinte, explicando que não era, cresci achando que aquele cara era o tal “Jedai” que o nome do filme dizia estar de volta.

E pelo resto da infância nem sabia que Jornada nas Estrelas não tinha nada a ver com Guerra nas Estrelas.

Depois disso só me lembro de ter visto pedaços do Retorno de Jedi na Sessão da Tarde. Nessa época foi emocionante ver os “ursinhos da Caravana da Coragem” fazendo uma “participação especial” na batalha final. A cena do barco do deserto também foi marcante. Mesmo assim, a mitologia da série era tão presente no meu círculo de amigos que passei boa parte da minha adolescência acreditando ter visto os três filmes inteiros.

Então em 1996, numa matéria do Caderno 2 do Estadão, George Luccas deu uma longa entrevista contando da origem da série, da inspiração dos principais personagens, quando ele descobriu a Força. Ao jornal brasileiro o cineasta também contou que seu plano original sempre foi fazer nove filmes para a série. Além dos três capítulos já produzidos, ele pretendia gravar três partes contando a origem do Império e outras três com os filhos de Han Solo com a Princesa Leia.

Mas a principal novidade que Luccas contou ao Estado foi que no ano seguinte os três filmes originais voltariam ao cinema remasterizados, com cenas extras e novos efeitos especiais. A exibição aconteceria apenas em salas aprovadas “pessoalmente” pelo estúdio sonoro THX. Felizmente o Cine Haway do Maxi Shopping, em Jundiaí, era um desses cinemas privilegiados!

E em 1997, um comercial anunciava na TV a reestreia de Star Wars nos cinemas. Uma X-Wing dentro apareceu de um televisorsinho enquanto um locutor dizia algo tipo “para uma geração que só viu numa tela pequena…” (ou algo assim). O caça espacial saía do monitorzinho e a ação continuava numa tela larga. No final a marca de um patrocinador (que não me lembro qual) aparecia. Era arrepiante. Tentei achar o vídeo original com áudio em português para incorporar neste post, mas só encontrei a versão que era exibida no cinema antes do início de cada episódio. Não faz o mesmo efeito, mas dá para ter uma noção.

Convidei quase todo mundo que conhecia para ir ao cinema. Todos, sem exceção, responderam “ah não, já assisti esse filme”. Isso foi bem frustrante.

E então o primeiro filme estreou recém batizado de Episódio IV: Uma Nova Esperança. Naquela época o Ensino Médio ainda se chamava Segundo Grau, que no meu caso também era Técnico. Não me lembro se eu tinha aulas nas tardes de quarta-feiras, mas foi o dia que fui ao cinema. Saí da escola, fora da cidade e bem longe do centro, e fui até a praça da Bandeira. Desci até o Habbibs da avenida Nove de Julho para almoçar. Passei no Shopping Paineiras para jogar uma ficha em Street Figther vs X-Men. E atravessei Jundiaí a pé para chegar no Maxi Shopping.

Havia literalmente meia-dúzia de pessoas na sala de exibição (por causa disso, até hoje prefiro sessões vazias e sonho com uma exclusivamente só para mim). Antes do filme, um pequeno making off explicando as principais diferenças da versão original para a remasterizada. E a principal descoberta que fiz naquele dia: nunca antes eu assistira o primeiro Guerra nas Estrelas, nem inteiro ou qualquer pedaço. Achei bem monótono, maçante e sem ação (cheguei até a cochilar). Embora fosse o filme mais chato dos seis da série (e comparado a muitos outros que já vi), seria impossível entender toda a saga sem assisti-lo.

Claro que saí do cinema mostrando toda a empolgação possível. Esta é a primeira vez na vida que confesso ter ficado de saco cheio. Fiquei com a impressão que George Luccas previu, na década de 1970, que talvez eu não seria uma exceção, e fez um filme com começo, meio e fim mas deixava muita informação para instigar uma sequência (tipo o Lanterna Verde)

Duas semanas depois, repeti o ritual. Encontrei os mesmos espectadores no cinema. Descobri de verdade o que aconteceu com o Han Solo, como era o treinamento de um Jedi e entendi todo aquele enredo picado que povoava minha imaginação desde meus cinco ou seis anos de idade.

Mais duas semanas, o mesmo trajeto até o Maxi Shopping e os mesmos gatos-pingados na sala. Assisti, também inteiro pela primeira vez na vida, um dos filmes mais empolgantes que já vi até hoje. Uma batalha em três frentes: um batalhão de selva unida a uma tribo contra um exército profissional; uma “batalha naval”; um duelo de espadas à moda antiga, valendo a alma do perdedor. Um final feliz com festa em todos os cantos da galáxia.

Reassisti a trilogia remasterizada em VHS emprestado e no SBT antes da estreia da nova trilogia.

Em 1999, quando eu ainda nem tinha internet em casa, estava apreensivo quanto ao que encontraria em Ameaça Fantasma, o novo Episódio I de Star Wars. Meu medo era que a tecnologia avançara tanto desde a produção do Império Conta-Ataca que as naves e robôs do novo filme fossem mais modernos que os elementos dos filmes antigos.

O filme estreou em julho, numa sala muito menor pertencente a uma rede concorrente do Cine Haway. Obviamente não havia só meia-dúzia de gatos pingados comigo. Entrava gente até não caber mais literalmente. Muitos se sentavam no chão dos corredores e outros ficavam em pé no fundo.

A sessão estava lotada. Ainda era aquela época que você ficava na fila para entrar na sala e algum acompanhante seu entrava na fila da bilheteria, e vocês só assistiriam o filme e vocês entrariam duas ou três sessões depois.

Fui sozinho. Na saída, encontrei três amigos na fila de para entrar. Peguei a penúltima sessão e eles a última do dia. Decidi espera-los para ter com quem conversar a respeito. Fomos todos para casa de um deles.

A empolgação do momento não nos permitiu ver os defeitos. Mas depois de cabeça fria, não daria para dizer que aquele garotinho, apesar casca-grossa viraria um dos vilões mais icônicos da história do cinema. O visual realmente era mais moderno que deveriam. A história era muito infantil para levar a um golpe de estado similar à ascensão do Nazismo.

Não me lembro quando ou onde estava na estreia do Ataque dos Clones. Só consigo lembrar que o grande problema deste filme foi a Ameaça Fantasma. O Episódio II tinha muita coisa a corrigir se George Luccas quisesse que a terceira parte da trilogia se encaixasse no resto da saga. A história foi confusa e corrida, mas deu conta do recado.

A Vingança dos Sith, Episódio III e última parte da segunda trilogia, foi o melhor dos três filmes da sequência. Porém pecou seriamente pelo excesso de informações. A fragilidade do roteiro da Ameaça Fantasma deixou muita ponta solta que não foi amarrada. Se não fosse a mágica Ordem 66, determinava aos Clone Troopers que exterminassem todos os Jedis, a saga nunca se fecharia.

Em 2008, quando trabalhava na Editora Devir, foi montada uma exposição no Pavilhão da Bienal, no Parque do Ibirapuera, com itens originais usados nas filmagens dos seis filmes da saga de Star Wars. A Terramédia, empresa do mesmo grupo da Devir, foi convidada a montar a loja de souvenirs do evento. Com muita insistência e com algumas desistências, consegui participar da festa inaugural.  Tremendo muito, fotografei algumas coisas antes da abertura oficial. Usei meu primeiro celular com câmera, que não era smartphone e para resgatar as fotos precisava enviá-las por SMS. Esse foi o momento mais significativo de Guerra nas Estrelas na minha vida.

Exposição Star Wars Brasil 2008

Levei o DVD do Episódio IV: Uma Nova Esperança para o caso de algum ator do filme estar presente. Fiz Anthony Daniels, o único a trabalhar nos seis filmes, intérprete do C3PO assinar no disco.

Eu fiz o C3PO autografar o DVD

Ainda na Devir, tive a oportunidade de conviver com fãs verdadeiros de Star Wars. Gente que estuda o funcionamento das naves e lê os quadrinhos publicados pela editora Dark Horse, onde realmente o Universo da saga se expandiu. Muitos me contaram possíveis plots (ou bases) para a terceira trilogia. As HQs contam histórias de várias épocas, abrangendo desde a origem da Antiga República até os Tataranetos da Leia, passando por como Han Solo e Chewbacca se conheceram e tomaram a Millennium Falcon do Lando Calrissian.

Depois de tudo isso, se você chegou até este ponto do post, não deve nem se lembrar da minha falta de interesse no Episódio VII: o Despertar da Força. Afinal esta seria uma espera de quase 20 anos, dentro de um ciclo total de mais de trinta, considerando os próximos dois episódios da nova trilogia.

Entra um pouco de saturação do tema sim (teve até aquela “hamburgeria Jedi” do Morumbi, que muita gente compartilhou no Facebook que precisei bloquear para não me irritar). A compra da Luccasfilm pela Disney também pesa (um conceito injusto, pois a “Turma do Mikey” não cagou nos filmes da Marvel). A data de lançamento, uma semana antes do Natal, também não favorece (foi este o único motivo que me impediu de assistir O Hobbit).

Mas o que não deixa a empolgação tomar conta do meu ser foi uma declaração de George Luccas, entre a estreia dos episódios II e III: ele anunciara a sua desistência de filmar a terceira trilogia, pois já estaria muito velho e não queria correr o risco de deixar sua obra para outros terminarem. Por conta disso ele encerrou sua parceria com a 20th Century Fox e posteriormente vendeu seu estúdio.

Ou seja, não sei o quanto o criador da série está realmente envolvido nesse novo projeto. É quase como se fosse uma fan fiction! Então não sei porque não esperar que não seja uma bosta completa.

Talvez você deva estar pensando que eu sou mais um típico pedante querendo a me impor como maior fã do mundo. Não é esse o caso. Aliás, essa foi a gota d’água; nos últimos dias, li mitos debates e depoimentos de “caras das antigas” contando o porquê da nova geração não merecer o Novo Star Wars.

Sei lá se até o próximo dia 17 eu não me empolgo, se assistirei durante um voo de longa duração, se verei no Netflix ou quando passar em um canal qualquer. Mas no momento, se a Força despertar ou não é indiferente para mim.