Estava dirigindo hoje quando a 89 tocou uma música totalmente desnecessária. Ela dizia no começo “Moça desce da sacada/Você é muito nova para brincar de morrer”. Uma letra tão deprimente, acompanhada de uma melodia tão tediosa que eu pensei que fosse Los Hermanos.

Tudo bem, entendo perfeitamente que Depressão é uma doença devastadora e que ainda é encarada com muito preconceito. Muita gente ainda acha que é só frescura. Mas não é algo que passa com uma churrascada com a galera. Precisa de tratamento com medicamentos, grupo de apoio, acompanhamento médico e, em casos extremos, com internação. Na minha vida conheci algumas pessoas que sofreram deste mal. Felizmente nenhuma delas se matou por isso.

Sei que muita gente adorará (ou já adora) essa música que ouvi hoje. Mas eu não. Ela não tem nada de positivo. Nada. É só um monte de versos baixo-astral. Não imagino como ajudaria a elevar a auto-estima de alguém. É uma Merda com “M” Maiúsculo.

Você pode até argumentar que o sofrimento sempre fez parte da música ao longo da história. E eu respondo que as melhores e as de maior sucesso, os grandes clássicos de qualquer gênero (qualquer um mesmo) abordam a dor, a angústia, o desespero, a tristeza, a mágoa e tudo mais que causa sofrimento. Seja um típico chifre sertanejo ou os tiros da Quinta Sinfonia, todo mundo enche os pulmões e canta junto quando a desgraceira de alguém começa a tocar. É fácil se identificar ou se compadecer com um artista que tenha o mínimo de carisma e a letra expressa um pouco de esperança.

A dura verdade é que a vida de todo mundo é uma grande bosta. Não só a minha ou a sua. Não só a dos humanos, dos mamíferos ou dos animais Mas a de todos os seres vivos da Terra (e provavelmente de outros planetas habitados no universo). Vale para qualquer religião, incluindo o Ateísmo. Todos precisam lutar diariamente para se alimentar, sem virar alimento de ninguém. Mesmo quem leva uma vida perfeita um dia se depara com o sofrimento alheio e começa a se sentir culpado por algo que acha que se omitiu inconscientemente.

A grande evidência disso é a grande pergunta: “Qual o Sentido da Vida?”. Não basta viver. Se não souber o porquê não adianta.

E é essa busca sem fim que torna o sofrimento tão atraente. É isso que leva tanta gente aos estádios quando o seu time está prestes a cair. É o mesmo motivo que faz o tráfego quase parar numa rodovia para ver um acidente. A procura do Sentido da Vida alimenta o sadismo, o masoquismo e a própria paixão. Se dói é porque está vivo.

Quanto àquela música que ouvi no carro, chegando em casa pesquisei o seu nome (e descobri que não é do Los Hermanos). Minha intensão quando comecei este post era fazer uma crítica musical (o detoná-la, para ser mais preciso). Mas chego à conclusão que ela não merece ser mencionada. E não precisará da minha aprovação para cair na boca da galera. É o tipo de merda que as pessoas que se definem como “intelectualizadas” ouvem. Não é do tipo que os boçais e os medíocres usam para chorar um chifre ou um pé na bunda. Não fala de um sofrimento fundamentado. É só a tristeza motivada pela própria tristeza.