Até dois dias atrás nunca tive uma camisa de flanela. Sábado de manhã, comprei duas. Sei que isso parece futilidade, que ninguém tem nada com isso, e que é problema meu.

Decidi compra-las porque entramos no segundo período do ano que faz um friozinho pela manhã, esquenta muito na metade do dia, e volta a esfriar a noite. E este tipo de camisa é quentinho, leve e ocupa pouco lugar dentro da mochila.

Não falarei apenas das propriedades térmicas do tecido. Mas principalmente da importância cultural dessa peça de vestuário. Ela marcou uma época, uma geração: a minha.

Se voltarmos no tempo (sei lá quanto tempo), perceberemos que sempre se usou camisa de flanela xadrez na América do Norte. Lenhadores de canadenses, caminhoneiros americanos. Talvez uma daquelas peças de roupa que todo mundo tem, e que ninguém se preocupa muito. Não sendo ridícula, está valendo.

Muitos artistas, cantores e rockeiros, ao longo dos anos, sempre as usaram. Mas foi na virada da década de 1980 para a de 1990 que as camisas de flanela ganharam notoriedade. O movimento Grunge, nascido em Seattle (uma fria e chuvosa cidade dos EUA), encabeçado pela banda Nirvana, incorporou a peça ao guarda-roupa da molecada de todo o mundo. Hoje elas fazem parte da história do rock, junto com as jaquetas de couro, o cabelo moicano, as calças rasgadas nos joelhos e os tênis All Star.

Aqui no Brasil, era muito comum ver a molecada com suas camisas amarradas na cintura nos dias de calor.

Estamos no final da década. Vai começar um novo ciclo de moda. Nos anos 80 houve um forte resgate dos anos 60. Nos anos 90 dos 70. Na década de 2000 dos anos 80. Agora o revival será da década de 1990. Tudo que era legal para a garotada daquela época, agora será coisa de gente-grande.

É a vez da minha geração herdar o comando do planeta. As roupas que nossos pais achavam horríveis, agora as usaremos em reuniões com clientes. As os “barulhos” que ouvíamos a 15, 20 anos já fazem parte dos clássicos. Agora o mundo é nosso.

Apesar de nunca ter tido uma camisa de flanela, tive duas camisas xadrez: uma de algodão leve, e uma de lã sintética (que ainda uso hoje em dia).