O Muro de Berlin - lado ocidental

Observem bem esta foto, pois ninguém mais poderá tirar outra no mesmo local. Sexta-feira passada (01/03), uma das peças do Muro de Berlin, que compõem este desenho foi removida. O estrago só não foi maior porque centenas de cidadãos berlinenses se puseram entre as máquinas e a antiga barreira que dividiu o mundo.

Este pedaço conseguiu escapar da euforia que colocou quase todo restante abaixo, em 1989, por ficar num lugar onde na época não havia nada. Hoje, do “lado capitalista”, existe uma movimentada avenida, e do “lado comunista” há um parque linear na margem do Rio Spree. O trecho de quase 1,5 km é conhecido como East Side Gallery e seus grafites foram feitos ainda durante a Guerra Fria por artistas do mundo todo. De tempos em tempos eles são restaurados ou mesmo repintados pelos autores originais.

E é justamente atrás deste desenho do Portão de Brandemburgo, no parque às margens do rio, que a construtora Living Bauhaus Society (que espero que não tenha nenhuma relação em grau algum com A Bauhaus, além da coincidência do nome) decidiu construir um condmínio com 36 apartamentos de luxo, dos quais a empresa alega que já vendeu 20. Outra construtora também pretende erguer imóveis de alto padrão em outro trecho do parque.

Na melhor das hipóteses isso significa a privatização de um monumento histórico que inspontaneamte tornou-se o símbolo mais significativo da liberdade que temos no planeta. Ou seja, um patrimônio da humanidade seria rebaixado a um reles muro de um “préido de playboys”. Na pior ele vira entulho e a população local ainda perderia uma área de lazer.

O site Opera Mundi, onde li a respeito do problema, não diz quem autorizou as empreiteiras a conseguiram autorização para esta monstruosidade. Ele explicam rapidamente que o lugar era meio “sem dono” desde a reunificação da Alemanha. É mais ou menos como acontece por aqui, quando casas são construídas em áreas de preservação ambiental e o poder público também não consegue (ou não quer) enfrentar o poder aquisitivo.

Porém, a diferença é que lá o povo não ficou em casa potrestando em abaixo assinados virtuais ou compartilhando memes no Facebook ou no Twitter. Ele foram ao locar e se puseram entre as máquinas e o muro. Foram dias de resistência passiva, onde milhares de berlinenses chegaram a participar. Não foi como aquele oba-oba dos movimentos “Ocupa”, que se espalharam pelo mundo anos atrás. Foi uma iniciativa inspontânea e legítima de cidadãos querendo preservar a sua História da especulação imobiliária (talvés esta será a grande doença social do século XXI).

Ontem, na volta para casa, eu até comentei (mais uma vez) com meu pai como Jundiaí, o lugar onde cresci, já não é mais a mesma. Como está tomada por altos e caóticos edifícios residenciais que estão destruindo a cidade. Observo um processo semelhante também em São Paulo e vi o mesmo quando estive em algumas cidades de Santa Catarina no ano passado. Nós, humanos, nunca conseguimos conciliar progresso com preservação. Tomara que aprendamos antes que não sobre nada a se preservar.

A foto acima fui eu quem tirou. Garanto que é uma sensação indescritível tocar o Muro. Eu era criança quando vi na TV o povo derrubando o restante dele. Tomara que a prefeitura local intervenha e impeça que este monumento, que já simbolizou a intolerância e hoje representa a liberdade, não desaarece nem parcialmente, e muito menos por completo.